segunda-feira, 4 de abril de 2011

Violência e baixos salários afastam professores novatos

Longe vão os tempos em que professor era uma profissão valorizada. Hoje, a carreira está depreciada e sem atrativos. Com isso, muitos dos recém-concursados desistem de ensinar antes mesmo de assumir o cargo. Eles pedem adiamento da posse ou largam a profissão de vez. No Ceará, dos 4 mil aprovados no concurso de 2009 para a rede estadual de ensino, 20% desistiram, segundo o Sindicato dos Professores e Servidores do Estado do Ceará (Apeoc).

Os docentes novatos perdem o interesse por causa das péssimas condições de trabalho (salas lotadas, por exemplo), a violência na sala de aula, os baixos salários, extensa jornada de trabalho, a falta de incentivo ao profissional e as condições físicas das escolas. Um número preocupante dos que assumem abandonam antes de completar o estágio probatório.

O problema vai mais longe porque não são apenas os recém-concursados que desistem ou reduzem a carga horária, mas professores veteranos. Muitos são obrigados a pedir a aposentadoria antecipadamente por causa de problemas de saúde, resultado do grande estresse a que são submetidos.

Conforme o psicólogo Álvaro Rebouças, a profissão exige muitas responsabilidades. “A carga de trabalho é excessiva o que faz com que os profissionais desenvolvam uma reação desencadeada pela rotina de trabalho”. O estresse continuado resulta na síndrome de Burnout, causada por circunstâncias relativas às atividades profissionais, ocasionando sintomas físicos, comportamentais, afetivos e cognitivos. As pessoas passam a ter aversão ao trabalho. “O problema é que o educador tem de responder à demanda dos alunos, dos pais e da instituição. Essa cobrança afeta a saúde”.

A saída apontada por Álvaro Rebouças é que os professores priorizem atividades que dão prazer e que tenham perspectivas de crescimento real para que possam suportar os problemas da carreira.

Para o presidente do sindicato Apeoc, Anísio Melo, a juventude não se sente mais atraída pela profissão. “E os veteranos perdem a magia de ensinar”.

Os baixos salários pesam muito na decisão de deixar a carreira. De acordo com Anísio Melo, os professores novatos do Ceará são os que possuem os mais baixos salários. “Temos um pagamento de R$ 1.400 por 40 horas/aula”. Além disso, eles não tiveram a readequação do plano de cargos e carreiras.

Para o presidente do sindicato, se o Governo do Estado atendesse às reivindicações seria uma forma de estancar a sangria de professores que é um problema grave. “Caso o Governo não sinalize com o plano, o índice de desistências vai aumentar”, alerta.

A consequência é sentida pela educação no Estado que fica comprometida pela falta de docentes. “Estamos caminhando para a possibilidade de um apagão no que tange o número de professores aptos para a sala de aula”, frisa Anísio Melo.
Luciana Matos (nome fictício) era professora concursada da Prefeitura de Fortaleza desde 2001 e desistiu da profissão. Hoje, ela está locada em outro órgão municipal. Luciana foi ameaçada de morte por um aluno de 11 anos de idade numa unidade escolar na Serrinha, um dos bairros mais complicado da Capital em termos de violência.

É difícil lidar com alunos
A maior dificuldade enfrentada pelos professores é lidar com os alunos. É difícil controlar o ambiente da sala de aula, sobretudo quando há um excesso de estudantes com um perfil de aluno de escola pública que vem de uma situação social complicada. Este tipo de estudante sofre violência em casa e está acostumado com essa linguagem, por isso acabam agredindo os professores.

Os educadores se sentem sós. O apoio dado pela equipe pedagógica, quando existe, é pequeno. Ela está preocupada com as questões burocráticas da escola. Uma queixa grande dos professores é que, muitas vezes, o curso de formação em pedagogia é muito teórico. Talvez eles chegassem nas escolas mais preparados para enfrentar certas situações se houvesse aulas práticas. Os pais de estudantes de instituições públicas têm uma relação de ausência com as escolas. Muitos alunos relatam o consumo de drogas e bebidas pelos pais que não entendem para que serve a educação. Eles veem a unidade escolar como um depósito de aluno que são atraídos pela merenda escolar e pelo Bolsa Família. Isso tudo é um pouco resultado da universalização do ensino que obriga as pessoas estarem nas escolas. A consequência é que aumentou o universo de crianças sem apoio psíquico dentro das instituições de ensino. Isso dificulta o processo educacional.

Mais do que a questão salarial, são os conflitos sociais que levam muitos professores a desistirem da profissão. Esse é um problema maior que o professor. É de desestruturação familiar. A escola em tempo integral é uma saída a medida que a criança vai ter outro ponto de referência, que não a família. Além disso, o investimento no professor e na aproximação dos pais com a escola são possíveis soluções. Está cada vez mais difícil encontrar pessoas que queiram ensinar. O Governo precisa incentivar o gosto pela sala de aula.

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=958089

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